A Pequena Violinista

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Notas iniciais: Também é tão velha quando o Conto I, postada apenas uma vez na minha conta no Nyah, mas hoje eu a adaptei para um conteúdo menos dramático e mais macabro, caso queira a versão original clique no link acima. Enjoy.


Parei. Confortei-me na varanda e larguei o trago. A música que tocava era consternada, melancólica e, cada timbre das cordas do seu violino, revestido de significados. O arco era movimentado com exatidão e o som tirado do instrumento era de uma afinação perfeita, meticulosa. Eu era incapaz de enxergar outra coisa além da canção, nada senão os olhos do músico. Uma efígie pequena de traços infantis e sujos, pés descalços, vestimentas brancas e esfarrapadas, fios castanhos escuros ondulados e bagunçados de uma forma despreocupada. Nada demais para uma sem teto, senão aqueles olhos. O mar de azul que invadia cada extremidade da íris além da tão negra pupila que refletia todas as cores do céu. Excelso, estonteante, doce. Tão confortante que cheguei a considerar que fosse apenas mais uma de minhas ilusões.

Fui o único a notar? Só eu, e tão somente eu, que notou aqueles olhos marejarem conforme os acordes chegavam no final? Ela chorava e me olhava com um olhar de piedade. Olhei ao redor: Pessoas vazias, sequer paravam as inutilidades que faziam para deixar-se invadir pela carinhosa canção, ou para contemplar o esforço da dona dos olhos de diamante. Será que eu, apenas um qualquer, era capaz de satisfazer o desejo de uma criatura tão grandiosa? Eu sorri. Sorri, expondo um lado sensível que não se pode mostrar nos tempos de hoje. E então, pela primeira vez, vi o anjo sorrir de volta. Com seu trabalho feito, pôs-se a seguir pela avenida com sua canção, seu rumo desconhecido. Mas antes dela sair, eu não sei se enlouqueci, mas ouvi ela dizer:


"Os anjos irão destruir essa cidade assim como fizeram com Sodoma e Gomorra. Se quiser viver, parta até o amanhecer."



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